Lidar com o espiritual sempre deixou o ser humano de certa forma, perturbado, face aos fatores que envolvem as crenças a respeito de sua existência. Na maioria das vezes, associam-se os espíritos e tudo que se correlaciona com eles, à morte e ao sobrenatural. Por este motivo, toda temática envolvendo os espíritos, ainda provoca perturbação na maioria das pessoas.
Às vezes, permitimos que nossos sentimentos em relação às pessoas que já faleceram, pelas quais nutríamos afeição e amor sinceros, se transformem em medo e pavor, porque ainda não aprendemos a lidar com a morte. A psiquê se contamina pelas crenças e valores ultrapassados, impedindo que sentimentos de ordem mais elevado sejam expressos.
Quando alguém que conhecíamos morre, trazemos de volta os mesmos sentimentos de quando morremos em vidas passadas. Isso permite que aflore antigas impressões negativas a respeito de espíritos e de "mortos".
Por mais que se queira negar a influência dos espíritos, não é possível precaver-se de sua presença psicológica forte no psiquismo humano, determinando e alterando nossas atitudes. Mesmo que seja considerado fantasia, tendem a ocupar o lugar deixado pela ausência de sabedoria em lidar com sua realidade ou com a probabilidade de sua existência.
Por vezes, afastam-se as crianças dos temas que se relacionam com espíritos, por acreditar que elas não têm maturidade para encarar a questão. Afirma-se isso como se já tivessem o que negam neles. Projeta-se nas crianças a dificuldade real em lidar com o assunto.
O que se relaciona com espíritos não deve ser tomado como objeto de crença ou de responsabilidade das religiões, mas como uma questão crucial para o ser humano, em face da necessidade da psiquê responder às suas indagações sobre a morte. A questão é crucial ao ego, pois enquanto ele não se satisfaz com uma resposta plausível sobre sua sobrevivência, permanece inquieto, necessitando de alguma compensação que transforma o que deveria ser simples em um problema grave.
Temer os espíritos é temer a si mesmo, declinando do dever de resolver uma questão psicológica séria, que quando satisfeita, liberta a psiquê para mobilizar suas energias a serviço do processo de realização pessoal. A Vida, tomada em seu sentido mais amplo, envolvendo a imortalidade do espírito, requer uma nova definição sobre a existência.
Diante da necessidade de lidar com espíritos e suas manifestações mediúnicas, devemos ter consciência de que estaremos enfrentando nossas próprias questões internas e, quando amadurecemos na relação com eles, resolveremos os cruciais problemas da existência humana. O ser humano nunca será o mesmo após internalizar a existência real dos espíritos que, como nós próprios, continuam vivendo após a morte do corpo físico.
Do ponto de vista psicológico, devemos estabelecer uma relação com os espíritos de forma madura e equilibrada, sem transformá-la em algo sagrado e do domínio da crença. Os espíritos são seres como nós, aos quais não cabe reverência ou manipulação, pois se assim o fizermos a psiquê inconsciente tenderá a estabelecer uma relação objetiva com os complexos que se vinculam à temática do sobrenatural.
O ser humano maduro tratará a relação como outra qualquer que se tem com pessoas, sem desprezá-la, banalizá-la ou sacralizá-la, pois se o fizer estará permitindo que ela se torne o que conscientemente não deseja, isto é mais um problema, ao invés de ser a solução.
Mesmo que deixemos a relação com os espíritos no campo da crença, teremos que ter o cuidado de trabalhá-la para que não tenha a conotação psicológica de terreno perigoso ou fora da realidade da consciência. O assunto requer percepção da situação do ego e de seus medos e valores.
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